Eu tinha mais ou menos uns oito anos quando fui a um
zoológico em Pomerode...
Naquela época considerei uma barbaridade a cena...
Um tratador colocou na jaula um porquinho da índia e o
bichinho ficou lá, imóvel, foi quando nós vimos a enorme cobra enroladona,
pronta para dar o bote... Vocês imaginam o que aconteceu, não é?
Pois é, não preciso descrever esta cena tão marcante...
Eu imagino que naquele dia eu aprendi uma importante
lição...
Algo que faz parte de mim, da minha personalidade, do meu
caráter...
Eu admito e compreendo a maioria dos predicativos do ser
humano...
Não tenho preconceitos e não me amofinam as escolhas... Nem
minhas, nem e muito menos as escolhas dos outros...
Mas em particular me incomodo com um adjetivo de alguma
pessoa humana SER CRUEL...
Esse eu não aceito não...
E nesses últimos dias eu me peguei a pensar em como as
pessoas são cruéis...
Eu ajudei a eleger um governador cruel, que não cumpre a lei
e que ainda por cima nos forçou a fazer uma greve, por acreditar que estamos
lutando por nossos ideais e que isso é um direito nosso e por ser uma classe
desacreditada e por milhões de motivos extras...
Esta greve nos proporcionou enxergar duas frentes iguais....
“Os grevistas e os não grevistas”
Muito bem, muitas foram as barbaridades do ser ou não ser; e
eis a questão:
- Começamos a nos ofender, a nos humilhar, a nos afrontar, a
nos envergonhar de coisas ditas, escritas e ouvidas...
Entre os grevistas e não grevistas, entre os grevistas e o
governo eu até entendo...
No calor da batalha sobra estilhaços para todos os lados e às
vezes a gente nem percebe que foi atingido ou que atingiu alguém a quem
respeitamos, enfim...
Mas o que balançou realmente o meu lado combatente, foi
saber que entre os PROFESSORES, SERES HUMANOS mesmo, não existe o devido e
sonhado respeito...
Como é que alguém desabafa, escancara sua vida particular,
os seus problemas além de ganhar ou não ganhar uma batalha; e é covardemente
atacado por um dos seus?
Eu não aceito, eu não admito, ver um colega, um amigo, sendo
o porquinho da india...
Esse era o momento de abraçar, de cuidar e de consolar
alguém que foi para Curitibanos, que foi para Florianópolis, que deu força na
peleja GREVE,que fez a queima do diploma, simbólico ou não, chorei em pensar
nos anos de estudo e eu não tive coragem de fazer um Xerox e queimar meu
diploma, porque sei tudo o que enfrentei para consegui-lo...
Pois muito bem! Quero deixar bem claro que eu também vou
voltar para sala de aula porque respeito os meus alunos, porque tenho fé que
não foi vã a luta nesses dias...
E não me considero traíra, nem medrosa, nem nada do que os
mais radicais líderes e partidários queiram alegar....
Acredito que essa manifestação grevista vai sim, nos trazer
uma boa colheita, acredito que não foram em vão esses 23 dias, acredito que
ainda vamos colher os bons frutos e os bons exemplos que plantamos...
Estou orgulhosa porque fizemos uma caminhada e fomos
aplaudidos pela profissão que escolhemos...
Acredito que somos muito bem quistos pelos 500 e tantos que
assinaram a nosso pedido aquele documento enviado para o SINTE E para o
governo...
Acredito nas palavras proferidas pelos vereadores dessa cidade,
mesmo porque um deles foi meu aluno e demonstrou orgulho em tê-lo sido...
Acredito que os microfones das duas rádios não teriam sido
abertos assim, de graça, se nós não fôssemos quem somos....
E para finalizar:
Acredito em tudo o que o meu colega professor Dalzotto disse
no seu discurso emocionado e emocionante na câmara de vereadores...“Por essas
mãos passam centenas de crianças colhendo o melhor de nós”, “Somos exemplos e
queremos respeito”, “temos família, mas cuidamos melhor da família dos outros”
Acredito no que o Diego e o Pedro disseram a respeito de ter
raízes de escravos e que chega de baixar a cabeça para os mandos e desmandos da
lei ou de quem quer que seja...
Desculpem-me se exagerei ou se ainda ficaram para trás os
olhares, o cinismo e a vontade de pisar nos companheiros, mas tem coisas que é
melhor mesmo deixar no passado, para não sofrer e não fazer ninguém sofrer...
Pensem bem em quem vocês querem ser...
Eu, do fundo do meu coração não quero que ninguém seja a
cobra e muito menos o porquinho da índia...
Nos resta, então, continuar desempenhando o papel do
tratador...
IZABEL
MOREIRA DOS SANTOS DAL RI