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Origem

Se o caboclo pudesse ainda falar...
Ele trataria da paz nestes campos...

(Izabel Moreira dos Santos)
Eu sou o cerne...
A essência, o interior...
Sou terra...
Sertanejo...
Raiz...

E quem diz que no sangue não está correndo terra
Não é gente
Não será semente
Nem pó, nem nada...

Nesta terra já fui flor
Já fui amor
Já fui pedaço de um tudo

Aqui no sul eu fui plantado
E meu nome é todo mundo
É solo
É piso
É chão firme
É meridião...

Eu sou o chão
Em que as sementes pisaram toda vida
E minhas mãos são cestos carregados de amor
A regar tudo que é flor
E que já foi semente um dia
E que árvore frondosa será
E que grandes colheitas trará... 

Eu sou José, João...
Sou Gregório, sou fé...
Sou Sebastião...
Meu batismo é de Igreja e de coração
Da minha mãe do meu pai e dos meus irmãos...
Eu sou de família
De quermesse, matinê, catequese...
Minha primeira trilha
Nos ensinamentos de minha mãe
E do meu pai trabalho
Economia e amor pela natureza
A grandeza primeira de um ser que quer ser homem ou mulher...
Que quer um dia saber o que quer...

Eu sou Maria,
Jurema, Eugênia, Eudóxia, Francisca...
Senhoras da terra e da casa
Alicerce, consorte...
Companheira de horas inteiras
Dividida pelo amor inteiro
Que só ela sabe sentir por cada fio tecido em sua linhagem
A mulher é a perfeita linguagem
Ela tece as memórias
Ela une
Ela reúne
Ela completa


Homem – mulher
Terra – sertão
Interior – humildade
Povo – humanidade

A história dos lugarejos que se formaram
Gerações que trouxeram conhecimento
Batalhas que se travaram
Vidas se formando de momentos

O que foi
O que é
O que será

Caboclo
Mistura

Aqui neste chão os verdadeiros amantes da terra
O lar das imperiosas Araucárias
Que hoje são árvores precárias
Machucadas pelas fitas pelas serras
Homens forasteiros sem coração
Homens que não dão valor ao nosso pinhão

Ah, quem dera se além de cortar essas mãos conseguissem semear...
Reconstruir o que os furacões humanos arrancaram a força...

Ah, quem dera se a natureza pudesse renascer impetuosa...
Mãe terra e conselheira, pudesse ressuscitar...
E das cinzas das serrarias surgissem sementes
E contra todos esses poluentes
O sertanejo pudesse lutar...
  

Ah terra mãe...
Que nasça a sabedoria nos corações...
E que em todas as nações brote o desejo da vida
E que o peito dos homens todos
Sinta o que sente um caboclo quando vê uma árvore tombar...
  

Eis o sertão...
Ah... Terra adorada pedaço do Brasil
Ah... Terra idolatrada coração de um céu anil
Adorada? Idolatrada? Respeitada?
Não Brasil...
Não há carinho entre as flores...
Não há mais emoção entre a correria simpática dos animais silvestres...
Não mais o encantamento das cores...
Não há mais respeito pelas águas...
Pelo chão...
E a natureza guarda no ventre tantas mágoas...
Porque as mãos que semeavam e curavam a terra, escassas estão...

Ahhh, quanta saudade dos tempos que vivi nestes campos...
Este meu berço natural recheado dos maiores encantos...
E que sonho tão louco eu tive agora...
Queria embalar você nos meus pensamentos agora...
Queria que os filhos modernos deste tempo...
Tomassem do passado como exemplo...
Pudessem também correr livres por aí...
Que eles pudessem experimentar as delícias
E as avós com suas meigas carícias...
Eu posso dizer que fui feliz aqui...

Quem não lembra...
É que não viveu...
Desculpe! Talvez você não me compreenda
Mas vou dizer do fundo do meu coração...
Sou feliz porque experimentei sapecadas de pinhão...
Sou feliz porque comi goiaba com colher sob o pé de goiabeira
Estou realizado como ser humano,
pois sentia o gosto todo ano
Do ingá, ariticum, ameixa e butiá...
E no quintal da minha avó o pé de uvalha que chamava baixinho
E as brincadeiras no parreiral do sítio do meu padrinho
As amoras e tudo o que você puder lembrar nesta hora dos teus tempos de infância...


 A batata-doce assada no fogão de lenha
A moranga feita na cinza
A chamada para o almoço
O revirado de feijão com torresmo
As comidas preparadas nas trempes
Panelas e caldeirões fervendo alegrias
No fogo de chão do paió
O pão feito no forno de pedra e de barro
Construção muito fina de tempos não tão longínquos
O monjolo fazendo a farinha
O sabão de cinza a lavar o corpo, os pensamentos e a alma, 
Levando embora o cansaço de um dia de trabalho na roça...
A boca se enche do sabor daquelas carnes de porco na banha
Guardadas nas latas...
E a sede saciada na água das bicas
É como se agora eu fosse imediatamente transportado para sótão
Aquele esconderijo mágico das primeiras peraltices

Foi um tempo sofrido
Mas foi um tempo de verdadeiros amigos
No chão dobrado
Dificuldades para agricultura
E para formar a lavoura era muito difícil
As árvores eram grossas
A mata espessa pedia muitos artifícios
Era preciso fazer a derrubada
E esperar a raiz apodrecer
Para poder cultivar a terra encantada
E os nossos ancestrais grandemente criativos
De sol a sol puxavam o arado fuçador
Contado com os cavalos e os bois
E suas ferramentas não eram máquinas potentes
Era o braço forte empunhando o machado
A foice e a enxada...
Os nossos homens e mulheres do passado eram feitos inteiramente da fé...

Nesta terra de José e Maria
Muita semente havia...
Havia mais fé neste sertão
E eu que tantas vezes ouvi
Com voz de bem-te-vi
O padre na missa crioula dizer
E o mundo inteiro a emudecer
E a pele toda a arrepiar
Como que de repente Jesus viesse pastorear
Por aqui, nas cancelas do sul...
E eu ouço ainda a voz do Padre
A fazer tremer o chão quando dizia:


Em nome do Pai,
do Filho
e do Espírito Santo
e com licença Patrão Celestial...

Vou chegando,
enquanto cevo o amargo das minhas confidências,
porque, ao romper da madrugada e ao descambar do sol,
preciso camperear por outras invernadas
e repontar do Céu a força e a coragem para o entrevero do dia que passa.

Eu bem sei que qualquer guasca,
bem pilchado, de faca, rebenque e espora,
não se afirma nos arreios da vida,
se não se estriba na proteção do Céu.

Ouve, Patrão Celeste, a oração que te faço,
ao romper da madrugada e ao descambar do sol.
Tomara que todo o mundo seja como irmão!
Ajuda-me a perdoar as afrontas
e a não fazer aos outros o que não quero pra mim.

Perdoa-me, Senhor,
porque rengueando pelas canhadas da fraqueza humana,
de quando em vez,
quase sem querer,
eu me solto porteira afora...,
êta, potrilho chucro renegado a caborteiro...

Mas eu te garanto, meu Senhor, quero ser bom e direito.

Ajuda-me, Virgem Maria,
primeira prenda do Céu.
Socorre-me, São Pedro,
capataz da estância gaúcha.

Pra fim de conversa,
Vou te dizer, meu Deus,
Mas somente pra Ti:
Que Tua Vontade leve a minha de cabresto
Pra todo o sempre e até a querência do Céu.

Amém.

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E quando penso em tudo o que já passou
E quando penso em tudo o que a vida já ensinou

E quando lembro que sou feito desta terra fértil
E quando vejo cada paisagem
Deste meu berço
Quase uma miragem
Eu compreendo a bondade de Deus
É só o Pai mesmo para construir uma casa tão perfeita para seus filhos
É só o Pai mesmo para nos envolver neste colo
Que é o nosso sul
E tecer um ventre tão fecundo desta mãe terra
Que formou o paraíso onde eu vivo

E pela terra os filhos teus travaram árduas batalhas
Aqui nas arenas do Contestado
De sonhos chucros
E de mãos calejadas pela enxada
As ferramentas foram trocadas
Para obter um bem maior
Gente de fibra
Vieram mexer nas feridas
E levaram personagens sem par

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 Nascida na lavoura
Nos confins da floresta
A sua mãe “A TERRA”
O seu pai “O LEITO DO RIO”
Protegida e nascida das cinzas
Patuá da fogueira de João Maria
Um clarão mulher
Uma guerreira nata das terras do Contestado
Viu na morte de seu pai e de seu amado
Um motivo a mais para lutar em prol dos caboclos rechaçados
Chica Pelega um nome gravado no peito dos doentes da guerra
Roberta Francisca mãos de luz e de cura
A iluminar os olhos dos guerreiros do Contestado
Filha do Taquaruçu
Da cidade Santa originou-se a mulher aguerrida de forças
Para combater o Dragão vermelho do Contestado
Feito do sangue dos caboclos destas terras...
Estava escrito que tudo aconteceria assim
E da luta dos caipiras
Se fez um trecho da história de Santa Catarina...

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 (João Maria)
De que é feito um homem que sai pelo mundo dizendo ser fruto da religião...
E dela formar e comandar exércitos de humildes homens...
Prontos para morrer em nome de seus objetivos...
João Maria foi uma semente que sonhava bons frutos...
Peregrinou entre 1844 a 1870
João Maria levava uma vida extremamente humilde...
Serviu para arrebanhar milhares de crentes,
Porém não exerceu influência dos acontecimentos
Que viriam a acontecer,
Mas serviu para reforçar o messianismo coletivo

Houve então, um segundo sábio de coração...
Um outro João Maria...
Esse nome se reforça
Surge em outra revolução
Para obter vitória em sua causa ele se esforça
Faz seu papel acreditando ser sensato
1893 Federalista lado a lado com os Maragatos...
Faz previsões de fatos políticos
Ganha terreno influenciando os crentes
E desaparece em 1908...
Seu nome deixa gravado em muitas mentes
Homens e mulheres de coração quente
Que por seus terrenos queriam lutar...
1912 surge então o terceiro monge
José Maria de Santo Agostinho
Curandeiro de ervas
Desertor do exército
Sua origem incerta
A fama veio encontrá-lo quando ressuscita uma jovem menina
E a esposa de um coronel de grave doença é curada
A vida desse monge então por completo seria mudada
Grande quantia de terra e ouro
O monge José Maria não aceitou
A sua notoriedade aumentou
Passou a ser considerado santo
E conhecido por todos os cantos
Um homem com a sina de curar e tratar dos doentes e necessitados
Ele não era um curandeiro comum
Sabia ler e escrever
Ele formou a farmácia do povo
E atendia quem lhe procurasse até altas horas da noite...
Esse homem santo, considerado.
Fez nesta querência muitos afilhados
O povo queria crer
Que esse era o santo por eles esperado
Afinal ele era letrado
Essa guerra se pôs a escrever...
Não se sabe ao certo o nome de todos os personagens a povoar a história do Contestado.... Não importa mais ver a cor dos lenços que avisavam de que lado cada um estava... Se soldado do governo ou crente ou fanático ou caboclo ou vitima da própria sorte... Sabe-se apenas que pais de família morreram na tentativa de acertar o rumo das suas vidas e da vida dos filhos seus...
Sabe-se apenas, que crianças foram chacinadas...
Que a fome e a sede arrebatou vidas de velhos, mulheres e crianças...
Acreditando serem eles, os vitoriosos de tão marcante guerra, os sertanejos se despedem da vida em meio as batalhas...
Adeus terras verdes que sempre nutriram a alma tão humilde desses caminheiros do sul.
Adeus vida de fartura que outrora nascia no ventre desta terra cultivada com tanto amor.
 Adeus canto dos pássaros...
Adeus pardais cinzas de dias nublados...
Adeus canarinhos amarelados do pôr-do-sol...
Adeus pacas, tatus, capivaras, veados e animais todos destes terrenos nossos, daqui deste sul, tão encantador e absurdamente divino...
Adeus peixes...
Adeus lambaris, pequenos companheiros de pescaria...
Adeus jundiá... Bagre... Saicanga... 
Adeus nuvens do céu mais azul e de brilho inexplicavelmente doce...
E se pudessem ainda os caboclos do contestado despedir-se, banhar-se-iam nos rios que cortam toda essa região inundada do sangue de seus filhos, e gritariam tão alto esse amor cultivado feito o feijão, o milho, abóbora, aipim, frutas e verduras todas que nos mantiveram em pé toda uma vida...
E eles descreveriam nas palavras e no linguajar mais simples e mais sublime que já se ouvira por estas veredas...
É hora da partida e por mais que a queiramos ainda, a vitória não nos pertence mais...
Os filhos deste doce chão guardarão com toda certeza as marcas de um tempo que foi assim, bélico, porque precisávamos conquistar as letras que desenhariam nossos nomes... Tão simples, quanto a brisa e a chuva, tão ferozes quanto os ventos e os temporais...
A terra do Contestado conquistou identidade foi e é na verdade o registro do que viveram nossos antepassados...
Quantas famílias choraram rios de saudade
Mães de soldados ou de caboclos são mães
E sentem a mesma dor quanto a partida de um filho
Todos sofreram
Todos perderam
Muitos não sentem nada nunca
Muitos valorizam apenas o dinheiro
E não pensam em todo absurdo que é uma guerra
Por terras, por vidas, pela ambição...
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A guerra acabou
O sol voltou a iluminar os dias
E o tempo voltou a repontar esperanças
Os homens dessa época raiz
Eram embriagados por ares de prosperidade
E na troteada pelas estradas da vida
Os cargueiros traziam o alimento
Os cestos inundados de novidades
O persuelo abarrotado de iguarias
Para a família experimentar
Eta tempo bom o das cavalgadas
Em busca do choro miúdo da gaita matreira
Dos namorados e das paixões com gosto do sertão
Eta caboclada faceira
Dos tempos de então
De mala na garupa
E sonhos inebriados de doces visões
Visões de felicidades, amores e vida
A broaca recheada de lembranças
Em meio as viagens da mente bucólica
As mãos calejadas da lida
A honestidade e a verdade imperavam em toda habitação
Todos num pulsar só do coração
Respeito pelos da casa e pelos vizinhos

Pode saber que se um porco se perdesse no terreno próximo
O amigo vizinho vinha pessoalmente entregar
Não havia maldade
Nem muitas marcas
Todos conheciam o seu espaço e os seus animais
Ser homem era ter honra
Ser homem era tatuar no peito rastros de honestidade
Tão serene e tão forte
Um fio de bigode valia sempre mais que um documento no cartório

As meninas na sua inocência aprendiam a ser mães carregando no colo os irmãos ou as bonecas de pano feitas pela generosidade das mãos da dona de casa que conseguia ser muitas mulheres em uma só – ser roça – ser pilão socando paçoca – ser valente para enfrentar os perrengues dos dias – ser mulher admiradora dos atos e do seu marido como pessoa humilde e ao mesmo tempo sapientíssimo...
E nas brincadeiras do terreiro estavam as petecas e os sorrisos...
O banho nos rios rasos com seu leito de pedras lisas...

Os meninos eram retratos dos seus pais desde muito cedo
Andavam troteando e tratando animais
Andavam a correr feito vento
E sorrir e sonhar com o dia em que seriam eles
Os grandes cultivadores de sementes e cuidadores de seus animais
Os meninos eram fortes candidatos a homens de verdade
Semeariam suas sementes e passariam para os filhos o que aprenderam com os pais...
E agora vou lhes dizer o que o meu velho dizia sem pretensão de alguém gostar mas sim de aprender com a evolução dos tempos o que ele aprendera com os seus pais:
Eis o que ouvia no rádio

Luis Goiano & Girsel Da Viola

A Vaca Já Foi Pro Brejo

Compositor(es): Tião Carreiro / Lourival Dos Santos / Vicente Machado




Mundo velho está perdido
Já não endireita mais
Os filhos de hoje em dia
não obedecem aos pais
É o começo do fim
Já estou vendo os sinais
Metade da mocidade
Estão virando marginais
É um bando de serpente
Os mocinhos vão "na" frente
As mocinhas vão atrás

Pobre Pai e pobre Mãe
Morrendo de trabalhar
Deixa o couro no serviço
Pra fazer filho estudar
Compra carro a prestação
Para os filhos passear
Os filhos vivem rodando
Fazendo pneus cantar
Ouvi um filho dizer
O meu Pai tem que gemer
Não mandei ninguém casar

O filho parece Rei
Filha parece Rainha
Eles que mandam na casa
E ninguém tira farinha
Manda a Mãe calar a boca
Coitada fica quietinha
O Pai é um zero a esquerda
É um trem fora da linha
Cantando agora eu falo
Terreiro que não tem galo
Quem canta é frango e franguinha

Pra ver a filha formada
Um grande amigo meu
O pão que o diabo amassou
O pobre homem comeu
Quando a filha se formou
Foi só desgosto que deu
Ela disse assim pro pai
Quem vai embora sou eu
Pobre Pai banhado em prantos
O
seu desgosto foi tanto
Que o pobre velho morreu

Meu mestre é Deus nas alturas
O mundo é meu colégio
Eu sei criticar cantando
Deus me deu o privilégio
Mato a cobra e mostro pau
E mato e não apedrejo
Dragão de sete cabeças
Também mato e não aleijo
Estamos no fim do respeito
Mundo velho não tem jeito
A vaca já foi pro brejo



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 E se nos tempos de outrora
Sofremos e choramos
Os tempos que vieram
Foram nos trazendo uma certa satisfação
Muitos de nós nascemos em casa
Outros tantos de agora
Nascem no hospital
E se andávamos por aí batendo pensamentos em estradas de chão
Hoje temos asfalto e modernização
Estamos crescendo
E de gente grande que fomos, na nossa simplicidade...
Estamos evoluindo de verdade
Agora temos chances de mostrar nossos trabalhos
Mãos especiais vão formando nosso artesanato
Somos artistas de nossos pensamentos
Somos criatividade
Somos emoção
Somos uma outra geração
Temos no peito um desejo nato....
E somos embalados por canções como esta:




 Compositor(es): Belchior



Não quero lhe falar
Meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor é coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto é melhor
Que a vida de qualquer pessoa

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está
Fechado pra nós, que somos jovens

Para abraçar seu irmão e
Beijar sua menina, na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio
E a sua voz

Você me pergunta pela minha emoção
Digo que estou encantada
Com uma nova invenção
Eu vou ficar nessa cidade
Não volto mais pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação

Eu sei de tudo da ferida viva
No meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua
Cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória
Essas lembranças é o quadro
Que dói mais

Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmo e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais

Nossos ídolos ainda são os mesmos
E as aparências não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém

Você pode até dizer que estou por fora
Ou então que estou inventando
Mas é você que ama o passado e que não vê
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem

Hoje eu sei que quem me deu a idéia
De uma nova consciência e juventude
Está em casa guardado por Deus
Contando vil metal


Minha dor é perceber que apesar
De termos feito tudo, tudo, tudo que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos

Como nossos pais !

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E outras gerações estão aí chegando devagar
E tomando o espaço que lhes é de direito
E o que será da vida
E o que trará a felicidade
A esses nossos jovens
O que lhes fará plenos
O que eles sonharão
Que ambições, que cores...
Que inocência...
Que carências terão...
Que sonhos...
Que flores...
Que natureza...
O que farão com a água e com as novas descobertas...
O que irão carregar nas mãos como conquistas...
Dinheiro... Poder... Tecnologias...
Isto nós já conquistamos...
Quais surpresas o futuro nos reserva...


Eu acredito que ainda existe um lugar
Acredito que ainda haja espaço para a esperança
Para a reciclagem
Para um ar puro
E para a água cristalina
Ainda existe lugar para o reflorestamento
Paro o plantio de árvores nativas
Que volte o tempo das imbuias, da canela e das araucárias...
Ainda existe lugar para a honestidade
Ainda existe lugar para a família e para o amor
Ainda há tempo de resgatar nossa identidade
Existe lugar ainda para uma vida completa e feliz
Repleta de esperanças e de sonhos conquistados...


 Ainda Existe Um Lugar
Compositor(es): Wilson Paim
Venha sentir a paz que existe aqui nos campos
O ar é puro e a violência, não chegou
O céu bem limpo e muito verde pela frente
Uma vertente que não se contaminou
Pela manhã, o sol nascente vem sorrindo
E os passarinhos cantam lindos, no pomar
O chimarrão tem um sabor de esperança
E a criança traz o futuro no olhar

De tardezita, tem os banhos no riacho
Jogo de truco junto à sombra do galpão
Uma purinha que faz rima contra o mate refrão
E o cão que late contra o guaxo, no oitão

O anoitecer nos apresenta mais estrelas
Entre o silêncio que da paz, para o luar
De vez em quando um cometa incandescente
Se faz presente para um pedido repontar
Aqui a verdade ainda reside em cada alma
Se aperta firme quando alguém lhe estende a mão
Se dá exemplo de amor, fraternidade
Aos da cidade que não sabem pra onde vão
           
QUE AS TERRAS DO CONTESTADO MANTENHAM VIVAS AS SUAS TRADIÇÕES E QUE CARREGUEM COM ORGULHO A VOZ DO CABOCLO A SUSSURRAR LEMBRANÇAS COM O VENTO...
NOSSOS ANTEPASSADOS PLANTARAM AS SEMENTES  NOS RESTA AGORA COM AMOR CULTIVÁ-LAS...
SE O CABOCLO PUDESSE AINDA FALAR...
PODE TER CERTEZA...
ELE TRATARIA DA PAZ NESTES CAMPOS...